segunda-feira, 23 de maio de 2016

POR UMA CATEQUESE DE INSPIRAÇÃO CATECUMENAL


Hoje, muitos pais já não educam na fé os filhos. Não cumprem mais com a sua missão de serem os primeiros educadores na fé. Consequentemente, certo número de catequizandos vem para a catequese com pouca formação e vivência cristã, sem ter feito uma adesão clara à pessoa de Cristo.


Nos cinco primeiros séculos da Igreja, chamava-se catecumenato o período de iniciação, de introdução progressiva na fé cristã e na vida da comunidade, os adultos que queriam ser discípulos de Jesus Cristo e membros da Igreja.

Na Primitiva Igreja, o catecumenato acontecia em quatro etapas ou tempos. A passagem de uma etapa para a outra era marcada por uma grande celebração. E este processo de iniciação era organizado da seguinte forma:

1ª Etapa: Pré-catecumenato (Primeira Evangelização)

Nessa primeira etapa as pessoas são acolhidas na comunidade. É feito o primeiro anúncio do mistério da pessoa de Jesus Cristo. É um tempo próprio para despertar ou reavivar a fé, provocar a conversão, crescer na oração e introduzir na comunidade cristã.

2ª Etapa: Catecumenato (Tempo de Catequese)

O início do catecumenato é marcado por uma primeira grande celebração, que é o rito de entrada no catecumenato. Nesta grande celebração os catecúmenos (os que ainda não são batizados) e os catequizandos são acolhidos na comunidade cristã e assinalados com a cruz do Senhor, recebem o livro da Sagrada Escritura como sinal de sua condição de ouvintes da Palavra de Deus.

É a etapa da catequese, onde são aprofundados os principais temas da fé cristã. Por isso, requer uma duração mais longa, devido aos grandes conteúdos da catequese. Nesse período os catecúmenos e/ou catequizandos recebem formação bíblica, doutrinal, litúrgica e moral (prática da vida cristã).

3ª Etapa: Purificação e Iluminação

Essa etapa inicia com a segunda grande celebração, que é a celebração da eleição. Os catecúmenos ou catequizandos declaram que desejam ser cristãos. São acolhidos e declarados “eleitos” (iluminados) para receber os sacramentos na Vigília Pascal.

É o tempo de preparação imediata para a celebração dos sacramentos da Iniciação Cristã: Batismo, Crisma e Eucaristia. Corresponde ao período da Quaresma. É como um grande retiro quaresmal. É tempo próprio para a revisão de vida, a purificação do coração, o crescimento na conversão e o fortalecimento da fé em Jesus Cristo.

Na noite da Páscoa recebem os sacramentos do Batismo, da Crisma e da Eucaristia. É a terceira grande celebração. É o ponto culminante da iniciação cristã e o início da nova vida.

4ª Etapa: Tempo da Mistagogia

Depois da celebração dos sacramentos na Vigília Pascal, o catecumenato continua com a etapa da mistagogia, realizada durante o Tempo Pascal. Os neófitos (novos cristãos) são introduzidos mais profundamente nos mistérios cristãos através de novas explanações e da experiência (vivência) dos sacramentos recebidos.

Este é o caminho que deve inspirar a nossa catequese, hoje. Por isso, que os diversos documentos da Igreja falam em catequese de inspiração catecumenal. Não se trata de reproduzir tal e qual o passado, mas buscar inspiração.

Características da inspiração catecumenal.

a) É uma catequese que parte do primeiro anúncio da fé (Querigma), aprofunda e celebra o mistério anunciado e conduz para a conversão de vida, ou seja, a vivência da fé anunciada, refletida e celebrada.

b) Catequese mais ligada à Palavra de Deus, mais orante, mais celebrativa, mais vivencial, sem deixar de lado a linguagem racional e doutrinal.

c) Catequese ritmada pelo ano litúrgico e apoiada em celebrações que vão introduzindo os catequizandos nos mistérios da salvação conduzindo-os, assim, a uma pessoal e plena adesão à pessoa de Jesus Cristo.

d) Catequese gradual e progressiva, com celebrações que vão assinalando a passagem de uma etapa para a outra do itinerário catequético. Por isso são fundamentais as celebrações da entrada no catecumenato, da entrega do Credo e do Pai nosso e da eleição perto da celebração dos sacramentos.

Na catequese de inspiração catecumenal é fundamental a ligação entre catequese e liturgia. A catequese ajuda a conhecer Jesus Cristo, a encontrar-se pessoalmente com Ele e a aceitar a sua proposta de vida. A liturgia ajuda a fazer a experiência e a guardar no coração os mistérios de Cristo.

O melhor caminho para fazer a ligação entre catequese e liturgia é seguir o Ano Litúrgico. Não há como compreender e viver plenamente os mistérios da fé sem relacionar a catequese com o Ano Litúrgico e suas respectivas celebrações.

Isso não significa simplesmente trabalhar o Ano Litúrgico como tal nos encontros catequéticos, mas tê-lo como caminho, no qual são relacionados e inseridos os conteúdos catequéticos. Portanto, o caminho está em programar o calendário catequético conforme o ritmo do Ano Litúrgico e não de acordo com o Ano Escolar. Tal programação já seria um bom começo para desescolarizar a catequese.

Temos pela frente o emocionante desafio de promover uma catequese mais evangelizadora, celebrativa, orante e vivencial, sem deixar de lado a dimensão doutrinal.

Portanto, está lançado o desafio: “ou educamos na fé, colocando as pessoas realmente em contato com Jesus Cristo e convidando-as para segui-lo, ou não cumpriremos nossa missão evangelizadora” (DAp 287).


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