Para um perfeito delinear da “Páscoa” é
necessário compreender, não apenas biblicamente sua história, origem, formas e
ritos. É necessário, mergulhar-se no contexto mais profundo da hermenêutica;
para traçar uma reta que venha plenificar esse contexto histórico e cultural em
uma culminância plena do antigo e novo significado.
Significados estes que ganham termos e
importâncias diferentes, mas, parte de um único sentido: “festa suprema dos
Cristãos e dos Judeus”. Para os Judeus: festa da libertação Nacional. Por outro
lado: Cristãos em festa pela vitória do Senhor Jesus sobre a morte (Rom. 1,4).
A Ressurreição de Cristo, o Cordeiro Pascal (Jo1,29.36), isto é, o Cordeiro Pascal
imolado no dia 14 do mês de Nisã ( 18,28; 19,31
e sobre tudo v. 36, através da citação de Ex 12,46), constitui o elo
entre as duas festividades.
Páscoa Judaica.
Dentro
do contexto histórico podemos salientar que todos os ritos que libertavam os
povos tinham haver com guerras ou batalhas. Não foi diferente com o povo de
Deus. O contexto fundamental da Páscoa Judaica baseia-se na prerrogativa da
libertação do povo Hebreu. Tendo em vista que a primeira finalidade era à saída
do povo escravo (hebreus) do Egito, para oferecer um culto agradável ao Senhor,
segundo suas prescrições. No entanto somente em data posterior ganha-se o
caráter indelével de libertação, cumprindo-se
a promessa há Abraão, que até agora era povo escolhido, mas desterrado de um
lugar aonde poderiam adorar ao Senhor.
Deste
modo, a Páscoa Judaica remonta tradições mais antigas, de culturas que também
esperavam a libertação do julgo opressor. Peculiarmente, Deus tem planos para
este povo desde a criação do Mundo, e quer que Sua vontade se sobreponha a
todos e a tudo o que já foi visto, deste modo, prepara seu povo para a batalha
da Libertação.
De
forma sucinta, Êx 12-13 descreve a Páscoa direcionando um “rito” aos quais são de
duas formas diferentes; em Êx. 12,21-23 descreve de forma abreviada (Moisés convocou todos
os anciãos de Israel e disse-lhes: “Ide e escolhei um cordeiro por família, e
imolai a Páscoa. Depois disso, tomareis
um feixe de hissopo, ensopá-lo-eis no sangue que estiver na bacia e aspergireis
com esse sangue a verga e as duas ombreiras da porta. Nenhum de vós transporá o
limiar de sua casa até pela manhã. Quando
o Senhor passar para ferir o Egito, vendo o sangue sobre a verga e sobre as
duas ombreiras da porta, passará adiante e não permitirá ao destruidor entrar
em vossas casas para ferir.),
e Êx. 12, 1-14 é mais detalhado. Porém, admite-se que o rito descrito na forma abreviada é mais
antigo que o da forma longa.
A Páscoa,
vendo-o desse modo, trata-se de um sacrifício noturno: em expiação ao Senhor
Deus, mas também uma preparação definitiva para que a libertação aconteça. O
rito é bem pontual com elementos muito reais que arremetem a um simbolismo
muito familiar aos hebreus. O cordeiro ou cabrito de um ano (animais cotidianos
os quais mansos, dóceis e obedientes e de tão tenra idade não seria muito
difícil sacrificá-los, e como adendo eles teriam um ano neste contexto por
conta da celeuma entre Moisés e Ramsés que perdurara até então, dando vazão aos
escravos se dedicarem à libertação vigente, não trabalhando o tanto que
trabalhavam antes e criaram seus animais, pois seus ritos tinham também a
prerrogativa de tomar um desses animais e fazerem dele ‘bode expiatório’), pães
ázimos (alimento cotidiano, mas também prefiguram uma festa particular, onde os
homens celebram o que colheram para o alimento e sustento da família) e ervas amargas (forma de sempre relembrar,
presentificando, o estado atual do povo que sofre no deserto, desde Abraão). O
rito se desenvolve com os comensais vestidos com roupas de festas e cinturas
cingidas (amaradas), sendo um rito familiar com poucos participantes. Sendo um
sacrifício de sangue. Com prescrições invioláveis. Como: horários, modo de
comer, o que fazer posteriormente á refeição pascal, forma de ungir os umbrais das
portas. Esses ritos nos remete á um poder protetor, contra a praga, mas, também
é prerrogativa do dia da recordação do êxodo.
Entretanto,
vale entender mais que antes da Festa da Páscoa no Antigo Testamento, temos tal
e qual a Celebração que é anterior à Páscoa. Chamada Pães Ázimos. Como a
vontade do Senhor deve ser cumprida podemos perceber que este rito trata-se de
um processo de purificação em preparação para grande Festa da Páscoa. Aos
elementos mais recentes do ritual pertence à fixação da data: o mês de Abib
(Êx. 13,4), que se torna o primeiro do ano. Portanto, há um espaço de quatro dias entre a
escolha do animal (no 10º dia) e o de sua imolação (14º dia) “ao cair da
noite”. Fazendo-se assim constatar que a Páscoa é a Festa da Purificação, onde
aqui se prepararão para um acontecimento pleno da saída libertadora, a qual
ganhará um caráter festivo “memorial” (fazer memória da libertação) que o
Senhor concedeu ao seu povo eleito. Na celebração litúrgica destes
acontecimentos, eles tomam-se de certo modo presentes e atuais. É assim que
Israel entende a sua libertação do Egito: sempre que se celebrar a Páscoa, os
acontecimentos do Êxodo tornam-se presentes à memória dos crentes, para que
conformem com eles a sua vida.
Além
disso, o termo Páscoa remonta a um hebraico antigo que transliterado nos chega
com o significado de ‘passagem’, o que conclui-se que tanto o Anjo Exterminador
passaria nas casas daqueles que não fossem escolhidos por Deus, e também
asseguraria a passagem dos mesmo de povo escravo a povo livre, enquanto estes
estariam em suas casa seguindo as prescrições de seus ritos já há muito
celebrado entre eles. Deste modo, a Páscoa Judaica tem seu sentindo completado
e confirmado quando Jesus Cristo retifica sua passagem entre os homens, e, além
disso, faz com que os homens entendam que sua vida na Terra é mera passagem.
Nossa verdadeira morada é o Reino de Deus, que já é e ainda não.
Páscoa Cristã.
Na
Páscoa Cristã, tudo o que foi constituído como Festa Judaica, tem sua
finalidade certa. Todos os elementos e todas as atitudes realizadas no Antigo
Testamento ganha uma denotação causa
mundi. Por isso ao atentarmos a Última Ceia poderemos ver que as grandes
festas (páscoa e pães ázimos) já não estão separadas. Mas unidas fazendo-se uma
única celebração. Entendendo-se assim como diz Lc 22,1. Contudo, mantém-se sua
tradição de ritos e práxis, onde tudo isso é preparação para uma outra grande
festa: Ressurreição de Cristo.
Os
Evangelhos nos narram ao todo quatro festas de Páscoa. Uma quando Jesus tinha
12 anos e sobe a Jerusalém com José e Maria, para oferecer sacrifícios no
templo.
No
entanto, vamos deter-nos no contexto da última ceia pascal de Cristo; há um
problema da datação da última ceia de Jesus o qual se assenta sobre o contraste
a este respeito entre os evangelhos sinóticos, de um lado, é o Evangelho de
João; do outro Marcos, que Matheus e Lucas seguem essencialmente, oferece a
esse propósito uma data precisa. “no primeiro dia dos ÁZIMOS, quando se imolava
o cordeiro Pascal”, os seus discípulos perguntaram a Jesus: Onde
queres que preparemos a refeição da Páscoa? ... Chegando a tarde,
dirigiu-se ele para lá com os Doze (Mc 12, 12. 17). À Tarde do primeiro dia dos ázimos, quando no
tempo se imolava os cordeiros pascais, é a vigília da páscoa. Segundo a
cronologia dos sinóticos, trata-se de uma quinta feira.
Mesmo que as datas coincidam ou não, o fato é que Jesus de
Nazaré, o Cristo, presentifica todos os elementos dos judeus em seu próprio
corpo e em suas próprias atitudes. Ele se torna o cordeiro (manso e humilde),
toma as ervas amarga em hissopo (o qual em sua Morte se fará presente também) e
como pai daqueles doze homens divide o pão que serve como sustento. Embora
todas as significações do Cristo tenha conotação para salvar cada um daqueles
que lá estava, ainda sim, Ele arrebate: “FAZEI ISSO EM MEMÓRIA DE MIM” o que em
toda Páscoa fazemos, isto é, em cada Santa Missa que participamos.
Portanto,
vemos uma ligação do significado no Antigo e Novo Testamento. Fazendo-se assim
uma profunda hermenêutica dos significados antigos e novos, que formam uma
história e um novo elo do povo “HEBREU” e do povo “CRISTÃO”.
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