
YHWH
é um nome histórico, revelado, não se trata, portanto, de um conceito
filosófico abstrato totalmente estranho à mentalidade dos antigos hebreus. Mas
precisamente por ter sido revelado por Deus é um nome cujo conteúdo possui um
valor religioso revelado por Deus. É um nome cujo conteúdo possui um valor
religioso transcendente.
O
valor religioso desse nome foi se explicitando cada vez mais na revelação
progressiva do Deus de Israel como o ser absoluto, único, eterno, infinito,
santo, onipotente, incomensurável, onipresente, justo e misericordioso, num
contexto, portanto, profundamente teológico. Desde o inicio Deus já diz a
Moisés: “Fala assim aos israelitas:
Jahweh, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, de Isaac e o Deus de Jacó,
enviou-me a vós. Este é o meu nome pra todos os tempos e esta é a minha
denominação, de geração e geração”.
Já
na vocação de Moisés Deus falara: Eu sou
aquele que sou! E ainda: Fala assim
aos israelitas: “Eu Sou” me enviou a vós. Logo Deus insiste sobre a
importância de seu nome. O “Ser” que
Deus se atribui não é, portanto, uma propriedade, como o poder e a bondade, mas
é algo que se identifica com a natureza
mesma da divindade.
Aquele
“que é”, não é uma abstração puramente
racional, nem um ser impessoal, mas um ser operante e pessoal. Ele mesmo se
define: “Eu sou”. Ele fala a Moisés e
o envia. Recorda a promessa feita aos patriarcas e quer tirar os israelitas da
escravidão. Visto que Deus é o “ser”,
ele é “um Deus vivo” (Gn 16, 14; 1Re
17, 20, etc). Enquanto “Aquele que é” o
Deus vivo, ele é também a origem de toda vida (Sl 36, 10).
Visto
que Deus é o ser, ele permanece fiel
às suas decisões e não esquece as promessas que fez. Logo, ele é Constante, o
Fiel. Do nome e do seu significado, os israelitas podiam e deviam deduzir que
ele queria ter misericórdia dos oprimidos. Trata-se, porém, de uma dedução.
Deus não se chama “Aquele que é”
porque é fiel, mas é fiel, porque é “Aquele
que é”.
Mas,
para compreendermos perfeitamente o que vem a ser essa “ALIANÇA” precisamos
entender o que significa o mesmo e qual o peso e valor deste pacto para o povo
de Israel. O Dicionário Bíblico Bauer, nos descreve um conceito nos seguintes
termos: “O conceito de aliança ( em hebraico berith, [ = b ], de etimologia
discutida, comparar com o acádico
birîtu, “ laço” e birît, “entre”) tem sua origem no campo jurídico das
relações . Berith significa a existência de segurança nas relações ( cfr. Pág 28
dic.) , ou ainda: “ na aliança de Deus com o seu povo resume-se a essência mesma da religião
do Antigo e do Novo Testamento, de tal forma que em Dan. 11, 28.30 “a santa aliança” tem o
mesmo que religião de Israel. Ou ainda,
podemos definir segundo o dicionário da língua portuguesa por: Pacto contraído por
mútuo acordo, para determinado fim comum.
Já com a
evolução do pensamento hebraico o cativeiro em Babilônia traz a expressão mais
genuína da fé do Povo de Deus, o autor do Livro
da Consolação não vê melhor razão de esperar que no nome mesmo de Deus: Ele é. É lícito esperar, porque Deus se
chama Jahweh, tal será o argumento
fundamental. Porque Deus se chama Jahweh
ele existe, sem começo nem fim, o primeiro e o último (41, 4; 44, 6; 48, 12);
porque tal é seu nome, foi ele quem tudo criou, ele é o Senhor absoluto de
todas as coisas e dos seres, o Senhor do universo, fora dele nada existe, tudo
é nada( 45, 14-17; 46, 9). Vê-se que o nome de Jahweh postula o que se poderia já denominar uma teologia: porque a
esta primeira revelação o autor relaciona a afirmação da eternidade, da
unidade, da onipotência, da fidelidade de Deus; e longe de reduzir a
significação do nome àquela do ato criador, ele a opõe por assim dizer, ao
resultado de sua criação: Deus é, a criatura
não é...
O
autor do Livro da Sabedoria também
não hesita em designar a Deus como Aquele-que-é. Com mais este pormenor, que se
pode atingir o conhecimento daquele-que- é, por um processo racional,
independentemente da revelação que funda a aliança (Sab 13, 1ss).
O rito da aliança,
narrado em Gn 15, 7 -17 encontra sua
explicação nas práticas rituais arcaicas de Mari. Conforme os textos de Mari,
para fazer um pacto se esquartejava um asno e para dizer “contratar um pacto”
se dizia “matar o asno da aliança”[1]. A
expressão hebraica “karat há-berit”
(cortar a aliança) em latim: fuedus percutere, icere, ferire, reflete
exatamente elementos culturais da Mesopotâmia e da Palestina do 1º e do 2º
milênio. Num texto assírio se fala do contrato entre o rei sírio, Matelu e o
rei da Assíria, Assurnirari, no qual depois de esquartejar um bode, diz o rei
da Síria: “Se Matilu pecar contra o
juramento, que sua cabeça seja cortada como a cabeça deste bode...”[2]. à luz deste fundo cultural, se deve
entender o rito arcaico de Gn 15, 7-17 que supõe relações com a divindade de
modo antropomórfico.
Esse
rito é praticado ainda hoje pelos beduínos moabitas que, para conjurar uma
epidemia, matam uma ovelha, cortam-na pela metade, colocam as duas partes
diante da porta e todos os membros da família devem passar entre ambas as
partes. Um costume semelhante se lê em Jer. 34, 18.
Conforme o pensamento hebreu fora se
solidificando, adentramos na realidade no assunto de modo mais especifico. A Aliança Sinaíta é um momento de
Revelação de Deus. A iniciativa é do Senhor (as alianças antigas eram propostas
pelos mais fracos, portanto vinha do reconhecimento dos seres humanos que
podiam transcender aos deuses que cultuavam, aqui temos o contrário).
Para compreender melhor, vamos ver Em Ex
24,3-11:
3. Moisés veio referir
ao povo todas as palavras do Senhor, e todas as suas leis; e o povo inteiro
respondeu a uma voz: “Faremos tudo o que o Senhor disse.” 4.
E Moisés escreveu todas as palavras do Senhor. No dia seguinte, de manhã, edificou um altar
ao pé da montanha e levantou doze estelas para as doze tribos de Israel.
5. Enviou jovens dentre os israelitas, os quais
ofereceram holocaustos e sacrifícios ao Senhor e imolaram touros em sacrifícios
pacíficos. 6. Moisés tomou a metade do
sangue para metê-lo em bacias, e derramou a outra metade sobre o altar. 7.
Tomou o livro da aliança e o leu ao povo, que respondeu: “Faremos
tudo o que o Senhor disse e seremos obedientes.” 8. Moisés tomou o sangue para aspergir com ele o povo: “Eis, disse ele, o sangue
da aliança que o Senhor fez convosco, conforme tudo o que foi dito.” 9.
Moisés subiu, com Aarão, Nadab e Abiú, e setenta anciãos de
Israel. 10. Eles viram o Deus de Israel.
Sob os seus pés havia como um lajeado de safiras transparentes, tão límpido como
o próprio céu. 11. Sobre os eleitos dos
israelitas, Deus não estendeu a mão. Viram Deus, e depois comeram e beberam.
Notar-se-á que há Aliança, é
cercada por um ritualismo; donde se acompanha de sacrifícios de animais, sangue
ou quem sabe até de Sal. Em Ex 24, 6-8 notamos que Moises, faz uso na cerimônia
de sangue “Este é o sangue da Aliança que o YHWH
fez convosco, através de todas essas cláusulas” (Ex 24,8),
aspergindo o altar e o povo, para atestar a veracidades da aliança. Ou quiçá para “ significar o respeito
da aliança”, por vezes o mesmo e cercado de expressões; que servem para Recordar
o pacto, que um dia foi feito. como: “Deter-se ao pacto” ou “Ser fiel ao
pacto”. Fazendo-se assim uma constante memória do tratado que um dia fora
feito.
É preciso deter-se a um detalhe muito
contundente nesta questão, referente á aliança ou pacto. É a importância do
mediado. Vemos esse papel em: Ex 24. E em Js 24. Sendo os mediadores Moises e
Josué. Donde os mesmo exercem o papel de porta voz, que estabelece as cláusulas
do acordo proposto. E fazendo com que a aliança deve ser registrada em uma
pedra ou tábua, sobre argila ou sobre um rótulo de coro ou de papiro. O mesmo
tem o papel de por assim dizer, quando se rompe a aliança de quebram as pedras
ou dê se rachar as tábuas, como fez Moisés em Ex 32.
Para coadunar o contexto, transcrevo um
trecho da apostila: o conceito de aliança; que ressalta o fato histórico da
aliança, propriamente dita para Israel e suas tradições posteriores à mesma.
Vejamos:
“Seja em Ex 24,3-11 seja em Ex
19,3-8,encontramos repetida, com algumas variações, a mesma expressão: “Tudo o
que YHWH disse, nós o faremos”. Mas o que o Senhor falou? O senhor, segundo a
lógica do texto deu, a Tôrah,indicada, nesta parte do texto,pelo Decálogo, norma
básica da Aliança.É a norma básica, mas não o compêndio da Tôrah. A tradição
hebraica considerava a Tôrah formada por 613 preceitos (365 proibições,
correspondente aos dias solares e 248 mandamentos, correspondentes às
articulações do corpo humano); O grande ensinamento da Tôrah, o mandamento
príncipe, é o primeiro. Quando Ex 20,2-6 prescreve de não haver outros deuses
além de YHWH não é tanto uma formulação teórica de monoteísmo. Trata-se de um
monoteísmo intuitivo, acrítico, afetivo, pessoal”.
Tendo o decálogo como norma regente da
aliança, e posteriormente toda Tôrah e seus 613 preceitos, percebe-se assim o
respeito e a importância relevante da aliança na vida do povo hebreu. Fazendo-se uso das normas em contexto diário
do existir do povo e da sua sociedade.
Por meio da Aliança que Deus acolhe Seu
povo para direcioná-los a Terra Prometida, sendo que por meio de uma outra
Aliança ele escolhe seu povo. Nesta perspectiva todos os cristãos hoje entendem
que a Aliança renovada em Cristo Jesus se entende a todos de geração em
geração. O que fora prometido e comprometido por Deus fora manifestado com a
historicidade do tempo aos hebreus/judeus, foi para os judeus/cristãos e ainda
o é (e para sempre será) para os cristãos.
Camarão, Anderson.
[1] Cf. G. DOSSIN, em Syria, 19 (1938), p. 108-109.
[2]
Cf. SPEISER, Mitteilungen der
Vorderasiatischen Geselschaft , 1898, p. 228.